Paraná: Estado intensifica ações para proteção da fauna silvestre

A preservação da fauna silvestre é um dos focos das políticas públicas do Paraná na área do meio ambiente. Já foi investido cerca de R$ 1 milhão em um conjunto de ações para a gestão e conservação de espécies do bioma paranaense e na educação ambiental. Ações voltadas aos animais silvestres no Estado foram apresentadas nesta terça-feira (06) durante live no canal da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo no Youtube.

De acordo com o secretário da pasta, Márcio Nunes, o conceito de meio ambiente envolve tudo o que versa sobre a vida na terra, e a fauna silvestre ganhou uma fonte de recursos própria para que as atividades não sejam pontuais. “Além de criar Centros de Apoio à Fauna Silvestre, os chamados Cafs, contratamos mais profissionais e os capacitamos para oferecer qualidade nesse atendimento. São investimentos que ficarão, independente da gestão estadual”, disse.

Atualmente existe um Cafs com sede em Curitiba e outros quatro foram autorizados no Interior do Estado. O objetivo é oferecer atendimento regional, sem a necessidade de transportar os animais vítimas de crimes como maus-tratos, comércio ilegal, tráfico e cativeiro irregular até a Capital para o tratamento médico veterinário.

A gestão da fauna silvestre é de competência do Instituto Água e Terra (IAT), órgão vinculado à Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e realizado em parceria com os municípios.

O diretor-presidente do IAT, Everton Souza, destacou a articulação conjunta também com outras instituições. “Isso é fruto do esforço das pessoas que atuam nas instituições estaduais e municipais, também com apoio das universidades, e que buscam continuamente soluções conjuntas para dar respostas a temas importâncias, como a fauna silvestre”.

Pró-fauna

As ações do Estado fazem parte das iniciativas Pró-Fauna, estabelecidas como estratégias para o enfrentamento dos problemas que impactam a fauna silvestre, além da capacitação de profissionais, que inclui treinamento contínuo de pessoal.

“Buscamos o atendimento condigno e a proteção necessária, em especial aos animais vítimas de tráfico e maus-tratos”, disse a bióloga Paula Vidolin. De acordo com ela, é comum encontrar animais vitimados por comércio e cativeiro irregulares, tráfico, maus-tratos e também pela falta de local adequado na destinação ao habitat natural após a apreensão.

De janeiro a agosto deste ano, dados da Polícia Ambiental Força Verde apontam que cerca de 4 mil animais silvestres foram vitimados pelo tráfico ou por cativeiro irregular. Entre as espécies mais apreendidas estão os pássaros trinca-ferro, canário-da-terra, coleirinho, papagaio-verdadeiro, papagaio-de-peito-roxo e periquito-rico. Houve, ainda, a apreensão de 2.111 gaiolas e 122 armadilhas no período.

“O IAT atua na proteção da fauna silvestre em condição de cativeiro e em condição de vida livre. E recentemente o resgate de fauna em situação de risco passou a ser realizado pelo instituto”, explicou a bióloga.

O trabalho em cativeiro envolve o licenciamento de empreendimentos que fazem uso e manejo de fauna, como zoológicos, criadores conservacionistas e científicos, mantenedores, entre outros, além do cadastramento e da autorização de criadores amadores de passeriformes (aves) da fauna nativa e do apoio à fiscalização.

Com a fauna em vida livre, as ações são na análise de estudos de impacto ambiental e na autorização de estudos de fauna vinculados ao licenciamento de empreendimentos.

“Houve aumento da presença de animais silvestres em centros urbanos, como gambás, ouriços e corujas. Eles têm esse ambiente como habitat e por isso é necessária a orientação da população para o convívio pacífico”, afirmou Paula, que citou também a presença inusitada de espécies não comuns nesse tipo de ambiente, como a onça.

“Isso acontece devido à expansão urbana ou porque ocorre o deslocamento do animal, que em virtude da fragmentação de habitats. Ele acaba não encontrando corredores naturais para sua melhor mobilidade”, destaca a bióloga.

Ao se deparar com animais silvestres em situação de risco (tanto para o animal quanto para as pessoas), a orientação é acionar o Batalhão de Polícia Ambiental – Força Verde pelo telefone 180, o Corpo de Bombeiros (181) ou o escritório regional do IAT mais próximo. Em Curitiba o telefone do órgão ambiental é (41) 3213-3830. Não é indicado se aproximar dos animais, nem tentar imobilizá-los sem a ajuda de profissionais.

CRIME – O artigo 24 do Decreto Federal nº 6.514/2008 estabelece como crime contra a fauna matar, perseguir, caçar, apanhar, coletar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, com pena variando entre detenção de seis meses a um ano e multa.

O tráfico de animais silvestres configura-se como uma das maiores atividades predatórias. De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), 38 milhões deles são retirados da natureza todos os anos no Brasil e cerca de 4 milhões são vendidos clandestinamente. A estimativa é que pelo menos 10 mil animais ao ano sejam vitimados no Estado.

CURITIBA – A Capital foi a primeira cidade a firmar parceria com o IAT na criação de Cafs. De janeiro de 2019 a agosto de 2020 foram atendidos 3.871 animais – cerca de cinco por dia. “A gestão de defesa e proteção da fauna atua no atendimento veterinário e também na educação ambiental, a fim de conservar a harmonia das pessoas com os animais”, disse o diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna de Curitiba, Edson Evaristo.

A cidade conta com seis espaços físicos para a proteção de animais: zoológico municipal de Curitiba, Passeio Público, Centro de Referência de Animais em Risco (CRAR), Centro de Apoio à Fauna Silvestre (Cafs), Museu de História Natural do Capão da Imbuia, e a Casa de Acantonamento.

No Zoológico de Curitiba 70% dos animais são oriundos de maus-tratos ou tráfico, impossibilitados de retornar a natureza. Das espécies abrigadas, 25 são ameaçadas de extinção, como o Muriqui.