Falar em ir ao dentista assusta muita gente, mas não a ursa Kiopaa, moradora do Zoo de Curitiba desde agosto do ano passado. A última sexta-feira (2/7) foi dia de tratamento dentário para ela, mas todo o procedimento – da remoção da ursa de 179 quilos à cirurgia – foi feito na maior tranquilidade, enquanto ela dormia – literalmente – como um urso.
Kiopaa foi levada ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV-UFPR), no bairro Cabral. Desde a sedação até o retorno ao recinto, todo o processo foi acompanhado pelas equipes do Zoológico e da Universidade. A necessidade do tratamento foi percebida na rotina diária e por exames preventivos feitos pela equipe da UFPR.
Para a chefe do Zoo, Ana Sílvia Passerino, é um cuidado que faz toda a diferença. “Descobrimos o problema dela na rotina diária de cuidados e essa parceria com a universidade garante que a Kioppa – e outros dos nossos animais – tenham um diagnóstico completo, um tratamento especializado e uma melhor qualidade de vida”, destaca.
O professor de Medicina Zoológica e Odontologia Veterinária, Rogério Lange, reforça que com esse tratamento a ursa, que já é idosa, terá mais alguns anos sem alteração na rotina.
“Nosso objetivo é frear a contaminação que ocorreu com a necrose dos tecidos em razão da fratura que identificamos no canino para que ela viva sem dor e da melhor maneira possível”, explica Lange.
De volta ao seu recinto desde o final da tarde de sexta-feira, Kiopaa em breve estará pronta para saudar os curitibinhas que visitam o Zoo.
Parceria
Esse cuidado faz parte de um termo de cooperação assinado entre a instituição que fica no Alto Boqueirão e o HV-UFPR, que visa garantir e ampliar os cuidados veterinários preventivos e as medidas de bem-estar animal, além de fomentar o ensino e treinamento em ciências veterinárias.
“Com a parceria, promovemos a interação entre as especialidades ofertadas pelo HV-UFPR com a demanda gerada pelas características estruturais e rotina do zoológico. Este tipo de parceria não beneficia apenas os animais da instituição, mas contribuirá para o avanço em pesquisas científicas e consequentemente para a compreensão e conservação de espécies”, explica o diretor de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria do Meio Ambiente, Edson Evaristo.
Além da odontologia veterinária, o hospital oferece patologia clínica veterinária; diagnóstico por imagem; anestesiologia veterinária; clínica e cirurgia de grandes animais, pequenos animais e animais selvagens; oncologia veterinária; oftalmologia veterinária; ornitopatologia; e medicina veterinária do coletivo.
Antes do tratamento de Kioppa, duas onças também passaram pelo local, relata a chefe do Zoo. Uma delas, para avaliar um problema de pele e outra para um check up geral.
“Temos vários animais idosos com um bom histórico de longevidade. Com essa possibilidade da parceria, temos ainda mais benefícios na manutenção da saúde deles”, reforça Ana Sílvia.
Para o professor Lange, trata-se, de fato, de uma parceria ganha-ganha. “Enquanto a equipe do Zoo e os animais têm todo o suporte de tratamento e das nossas especialidades, nossos residentes têm a chance de lidar com pacientes incomuns, como esses animais de grande porte”, destaca.
O novo documento prevê, além da inclusão do atendimento aos animais silvestres, a renovação da parceria para as ações clínicas nas comunidades do Município, auxiliando na promoção da saúde das pessoas, das famílias e dos seus animais domésticos.
Educação Ambiental e conservação
Mais do que a responsabilidade com a saúde dos animais mantidos no plantel, o tratamento deles mostra, na prática, tudo o que prega a Educação Ambiental do Zoológico de Curitiba, que é a importância da conservação e de se combater o tráfico e os maus-tratos aos animais.
“Fazemos de tudo para que eles fiquem bem e que as crianças que vêm nos visitar percebam isso e a importância que eles têm”, finalizou a chefe do Zoo.
O Zoológico possui área de 589 mil metros quadrados, com aproximadamente 165 recintos onde são mantidos cerca de 1,8 mil animais selvagens. Entre elas, estão algumas espécies nativas ameaçadas.
A instituição participa, ainda, de dez programas nacionais de conservação dessas espécies, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Associação dos Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab).
Leave a Reply