Na corrida por sua primeira eleição, o General Joaquim Silva e Luna, candidato do Partido Liberal (PL) à prefeitura de Foz do Iguaçu, colocou a empregabilidade e saúde como suas principais prioridades. A afirmação foi dada durante a sabatina realizada pelo Diário de Foz em parceria com o Blog do Esmael.
Para impulsionar a empregabilidade, Silva e Luna destacou a importância de parcerias com o “Sistema S” e a necessidade de uma educação que inclua empreendedorismo, economia, mercado e tecnologia. Ele propõe que alunos do ensino médio tenham acesso a uma formação técnica que os prepare para ingressar no mercado de trabalho com qualificações específicas.
Confira a íntegra da entrevista em vídeo e texto logo abaixo.
A saúde, segundo o candidato, é um setor em crise em Foz do Iguaçu. Ele aponta que a estrutura atual está sobrecarregada, atendendo ao dobro da população para a qual foi projetada, devido à alta demanda de residentes na região e até de cidades vizinhas. Para melhorar o atendimento, Silva e Luna sugere a implementação de tecnologias avançadas que possam otimizar os serviços de saúde e reduzir filas de espera.
As sabatinas com os candidatos à prefeitura de Foz do Iguaçu são uma iniciativa conjunta do Diário de Foz e do Blog do Esmael. As entrevistas serão divulgadas nos próximos dias com a seguinte ordem:
- General Silva e Luna (PL) – 19 de agosto
- Sergio Caimi (PMB) – 22 de agosto
- Paulo Mac Donald (PP) – 26 de agosto
- Jurandir de Moura (PSOL) – 29 de agosto
- Airton José (PSB) – 2 de setembro
- Zé Elias (União Brasil) – 5 de setembro
- Sâmis da Silva (PSDB) – 9 de setembro
Natural de Barreiros, Pernambuco, Silva e Luna é general da reserva, com formação pela Academia Militar das Agulhas Negras. Sua trajetória inclui posições de destaque, como Ministro da Defesa, Presidente da Petrobras e Diretor-Geral da Itaipu Binacional.
Em relação à polarização política que permeia o Brasil, o candidato, que pertence ao mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou que seu objetivo é trabalhar pelo bem da população de Foz do Iguaçu, promovendo o desenvolvimento do potencial da cidade. Ele enfatizou a necessidade de colaboração entre os governos municipal, estadual e federal
“Então, esse alinhamento que tem que existir entre município, Estado e União, ele é natural, é normal ser buscado”, afirmou.
Entrevista com o General Silva e Luna, candidato a prefeito de Foz do Iguaçu
[Diário de Foz] Quais são os principais temas que o senhor pretende abordar em sua campanha e qual é o seu projeto de cidade para Foz do Iguaçu?
O principal tema que tenho interesse em trazer para Foz, eu diria que são todos os que dizem respeito à missão de um prefeito em uma cidade. Além dos serviços básicos que a prefeitura tem que oferecer ao cidadão, como transporte, saúde, educação, segurança, mobilidade urbana, assistência social, entre outros, também é fundamental gerar oportunidades de emprego. Isso significa criar condições de empregabilidade.
Temos um Sistema S que oferece 10 a 12 tipos de cursos diferentes. É importante permitir que os alunos, já no segundo grau, possam integrar à sua educação uma formação técnica que os direcione para uma área de trabalho na qual tenham interesse. Sabemos que a escola normalmente oferece uma formação teórica, mas o que cai na prova nem sempre cai na vida.
Muitos saem da escola despreparados. É crucial que eles saiam com uma iniciação em empreendedorismo, entendam de economia e mercado, e tenham uma especialização, mesmo que mínima, na área tecnológica ou em qualquer outra área que queiram seguir.
Outro tema que inquieta a nossa população é a saúde. Realmente, a nossa saúde é precária. Temos grandes dificuldades porque a estrutura hospitalar e de saúde básica da cidade foi projetada para um número populacional que hoje atende mais que o dobro, devido à quantidade de pessoas que circulam na região e das cidades que utilizam os serviços de saúde de Foz do Iguaçu. Estamos na tríplice fronteira, onde muitas pessoas, inclusive durante a pandemia de Covid, utilizavam nossos hospitais. É necessário que o Sistema Único de Saúde (SUS) funcione bem aqui em Foz do Iguaçu para atender essas pessoas. Lembro que no Hospital Costa Cavalcanti disponibilizamos 40 leitos para Covid e chegamos a ter 38 deles ocupados por pacientes estrangeiros, que foram tratados com dignidade.
Esse é um tema que requer cuidado especial, e também precisamos dar um tratamento tecnológico à área de saúde, por causa das filas. Muitas vezes essas filas não são auditadas; uma pessoa pode entrar em duas ou três filas diferentes. Especialidades que não são realizadas em Foz precisam ser encaminhadas para Cascavel ou até Curitiba. Existe uma complexidade grande que precisa ser melhor regulada. Portanto, considero esse um tema relevante e que está ganhando destaque em nosso plano de governo.
[Diário de Foz] Sobre essa questão da polarização nos últimos anos, nós vimos crescer essa polarização entre o bolsonarismo e o lulismo. Como o senhor planeja equilibrar a relação com o governo federal e com o governo estadual para garantir investimentos em segurança e infraestrutura em Foz do Iguaçu, que é uma cidade tão estratégica na tríplice fronteira?
O final da sua pergunta contém a resposta: Foz do Iguaçu é uma cidade estratégica da tríplice fronteira do Brasil. Não é apenas de Foz do Iguaçu, é do Paraná e do Brasil. Então, a pergunta já traz parte das respostas. Qual é o bem que queremos tutelar? É a população de Foz do Iguaçu. Queremos oferecer a ela o que há de melhor, explorar o potencial da cidade, melhorar a qualidade de vida e criar condições para que investidores busquem Foz do Iguaçu.
Além do seu grande potencial na área de turismo e logística, também devemos facilitar o desenvolvimento desse potencial. Mas é importante lembrar que vivemos em um país que é uma federação. O município faz parte do estado, e o estado faz parte do país. Foz do Iguaçu é uma parte do Brasil. Esse alinhamento entre município, estado e união é natural, normal e deve ser buscado.
O prefeito deve ter a habilidade e a capacidade de, desde cedo, buscar um alinhamento entre as necessidades do governo estadual e federal na área que for necessária, seja infraestrutura ou qualquer outra. Lembrando sempre que o bem que queremos cuidar é a nossa população, trazendo para ela o que é melhor e o que ela merece receber. Esse alinhamento deve ocorrer naturalmente.
Atualmente, temos até um apoio na base da minha estrutura de governo, com o vice-presidente do partido do governador do estado, que demonstrou total apoio na última reunião que tivemos. Ele afirmou: “Imaginem o ano que vem, no dia 1º de janeiro, com a caneta de prefeito e eu com a caneta de governador, o que somos capazes de fazer juntos.” Isso demonstra um total apoio e alinhamento nessa direção, e daí buscaremos outros canais, se necessário.
[Diário de Foz] Recentemente, um estudo apontou Foz do Iguaçu como uma das oito cidades mais caras para se viver no Brasil, e um dos indicadores foi a questão da moradia. Eu gostaria de saber sua visão em relação à moradia ser tão cara em Foz, e se o senhor tem algum planejamento no plano de governo para construir mais casas populares e combater a especulação imobiliária, pontos que encarecem o aluguel para a população de Foz do Iguaçu.
Precisamos combater as causas que geram isso. O que aumenta o preço em qualquer tipo de atividade é a lei da oferta e da procura. O que encarece é a diminuição da oferta, o que faz o preço subir. Isso acontece em qualquer mercado. A única lei que podemos tentar controlar é a lei da gravidade, porque a lei de mercado é mais difícil.
No caso de Foz do Iguaçu, há uma grande demanda por moradia. Hoje, há cerca de 35 mil residências ocupadas de forma irregular, que não foram regularizadas. Isso é um dever de casa que o próximo prefeito terá que resolver.
Ainda há uma grande necessidade de moradia na cidade, pois recebemos muitas pessoas de diferentes partes do Brasil. Por exemplo, muitos estudantes vêm fazer cursos, como medicina no Paraguai, e acabam residindo em Foz do Iguaçu temporariamente. São cerca de 25 a 30 mil estudantes, e muitas vezes suas famílias vêm junto, o que gera uma demanda por moradia que não é computada como habitante local, mas que ainda assim precisa de residência. Isso encarece o mercado. Os custos de aluguel também sobem devido ao turismo. Portanto, é necessário aumentar a oferta de residências.
Já existem diferentes projetos no próprio estado do Paraná e em algumas cidades vizinhas a Foz do Iguaçu que adotaram soluções de construções pré-moldadas, onde uma obra que levaria dois anos pode ser feita em seis meses, com um custo mais baixo. Isso já está no nosso radar, pronto para ser adaptado à nossa situação e ser construído. Foz do Iguaçu tem muitos espaços vazios que pertencem à prefeitura, inclusive em zonas rurais. Portanto, não vejo isso como um problema.
O que precisamos é encontrar a melhor forma de realizar isso, seja através de parcerias público-privadas, fomentos bancários ou pela Caixa Econômica Federal. Existem muitos programas de moradia que podem ser adaptados à cidade. Isso está no nosso radar e não será um problema. A população de Foz, que hoje vive esse dilema, pode contar que haverá uma solução. Outro dado significativo é que temos um dos IPTUs mais caros do Brasil.
Comparando o que se cobra de IPTU em Foz, é realmente muito alto. Talvez esse seja outro fator a ser analisado, pelo menos em comparação com outras áreas, para verificar se está dentro daquilo que é compatível. Portanto, há caminhos de solução, sim.
[Diário de Foz] O contrato com a Viação Santa Clara termina em 2025, no próximo mandato. Eu queria saber se o senhor também considera, como exemplo de outras cidades, a implementação da tarifa zero ou o aumento das frotas de ônibus para melhorar e otimizar as linhas de transporte público em Foz.
Nossa mobilidade urbana é ruim. Não vou entrar nas causas ainda, mas é ruim. O terminal de transporte urbano é um local até perigoso de se ir à noite. As pessoas ficam no escuro, sem policiamento, com moradores de rua que colocam em risco aquela área. O bosque ali atrás também amedronta as pessoas. Em relação aos ônibus, temos veículos de todas as cores e tipos, e não há uma fiscalização adequada, na minha percepção.
Como mencionado, o contrato termina no início do próximo ano, em fevereiro, se não me engano. Algo deve ser feito em relação aos preparativos, ao lançamento e ao chamamento público para a nova contratação, que deve ocorrer ainda este ano. Imagino que isso ocorra durante uma fase de transição de governo.
O prefeito eleito deverá conversar nessa fase de transição para que a nova contratação já esteja de acordo com suas diretrizes e orientações. Deixar essa responsabilidade nas mãos de uma única empresa concorrente é arriscado. Seria bom ter mais de uma empresa.
Depois disso, a organização das ruas, a identificação dos locais de espera de ônibus, que hoje são terríveis, precisa ser revista. Há locais onde nem se sabe que é um ponto de ônibus. Precisamos melhorar a sinalização.
O nosso asfalto, que é bem precário, também precisa de atenção. Temos quase 600 km de asfalto, mas é difícil encontrar uma rua onde você passe e se sinta confortável. Há muitos buracos e problemas no arruamento. Muitas ruas são descontinuadas e se conectam às principais, causando grandes engarrafamentos por falta de uma melhor distribuição do trânsito. Talvez seja necessário mais de um terminal. Um bairro poderia ter uma circulação de ônibus somente dentro de suas próprias áreas,com ligação a outros bairros ou ao centro, quando necessário.
Toda essa parte relacionada à mobilidade urbana precisa ser revista. Não está boa, para não dizer que está um caos.
Precisa ser revista. Temos um bom projeto para isso. Já começamos, inclusive, com um engenheiro de tráfego para poder apresentar um projeto que ofereça uma solução mais confortável, mas agora ele precisa ser adaptado. Estive olhando, e é como tentar colocar uma bola redonda em um buraco quadrado. Precisamos adaptá-lo à realidade de Foz do Iguaçu.
Não adianta trazer uma receita pronta para implantar aqui; temos que ver a nossa realidade. Inclusive, a população. Há bairros grandes, como a Vila C, que em termos de dimensão territorial é grande, mas em termos de população é metade do Morumbi, que é um dos maiores bairros de Foz do Iguaçu.
E a população é maior do que muitas cidades do estado do Paraná. Então, temos que adequar tudo isso às necessidades. Precisamos trabalhar essa parte do planejamento em função da geografia da cidade, das distâncias e da população usuária de transporte.
Terminais, segurança, iluminação, melhoria da sinalização das ruas horizontais e verticais, e a melhoria do asfaltamento, que todo mundo sabe que é precário.
[Diário de Foz] E em relação à tarifa?
Em relação à tarifa, será estudada durante a licitação. Mas imagino que, nos finais de semana, quando o trabalhador está em casa, ele precise de transporte principalmente durante a semana.
Às vezes, uma confusão nas tarifas pode ser melhor resolvida com uma tarifa mais baixa, mas única, durante todo o mês, qualquer que seja o dia. Isso facilita o controle e a vida tanto do planejador quanto do usuário do sistema. É um preço que deve ser compartilhado entre a prefeitura e a população, para que valorizem o transporte.
Mas é importante que o ônibus seja de qualidade, permitindo que qualquer pessoa embarque nele: crianças, adultos, idosos, pessoas com deficiência física. O contrato precisará dar atenção a tudo isso, e depois fiscalizar. O prefeito deve andar de ônibus para saber como está o serviço.
[Diário de Foz] Nos finais de semana, as rotas de ônibus são reduzidas, e há menos ônibus circulando. O senhor acha que isso precisa ser repensado no próximo contrato? Manter as rotas de ônibus durante os finais de semana ou até aumentá-las em relação ao que temos hoje?
Acho que isso precisa ser bem regulado. Deve ser bem estudado, considerando a demanda. O que levou alguém a diminuir? O que levou alguém a manter? O que levou alguém a aumentar a necessidade? Se há mais turistas no final de semana, por que não aumentar a quantidade de ônibus? Se há menos, reduzir. Mas quanto reduzir? Isso deve ser quantificado.
Não pode ser baseado em opinião. Tem que ser um estudo baseado em dados e fatos, para se chegar a uma conclusão correta. Não dá para trabalhar com amadorismo, prejudicando a população. Lembro que o bem que a prefeitura tem que zelar é sua população, sua gente. Esse é o cuidado que o prefeito deve ter. Tudo o que não beneficiar esse bem está errado. O foco tem que ser a população que ele deve atender.
[Diário de Foz] Nos últimos meses, tramitou na Câmara um projeto do atual prefeito sobre o piso salarial dos professores. Em Foz, os professores da rede municipal recebem R$ 543 a menos do que é estipulado no piso salarial para a categoria. Nós vimos tramitar o projeto de pagar essa diferença salarial com um complemento, mas a categoria docente não aceitou, pois o complemento não incide nos direitos trabalhistas e previdenciários. Eu gostaria de saber o que o senhor planeja para garantir os direitos trabalhistas da categoria docente e o piso salarial.
Olha, sou 100% favorável à postura dos professores. Se há um piso salarial e ele não é honrado, isso é até ilegal. Se existe uma definição de valor mínimo e ele não é respeitado, há uma dívida, e essa dívida pode ser cobrada judicialmente. Minha percepção é que sim, deve ser respeitado. E mais: se há um servidor público, todos são importantes, todos são relevantes, senão não estariam na prefeitura ou em outro local, mas o professor é fundamental. A educação é a base de tudo.
Tudo começa com a educação. Sou suspeito para falar disso, pois toda a minha vida, toda a minha trajetória, dependi de mestres, professores e orientadores. Sempre segui seus conselhos e orientações.
Olha, sou 100% favorável à postura dos professores. Se há um piso salarial e ele não é honrado, isso é até ilegal.
Tenho um débito profundo com minha primeira professora, dona Corina, que me orientou na religião, na família, em tudo que minha família, mais humilde e com muitos filhos, não tinha condições de me orientar. Guardo isso com um profundo carinho. Mas não é por razões afetivas que tomaria essa decisão. É porque são as pessoas que mais influenciam a sociedade. Os países que evoluíram, como a Coreia do Sul, começaram investindo em educação. E a partir daí, evoluíram.
Outros países, como a Índia e a China, embora com culturas diferentes, investiram fortemente em educação. Mas cito o caso da Coreia do Sul, onde acompanhei de perto como o país foi transformado a partir do sistema educacional. Portanto, o piso deve ser respeitado sim, e até mais: indicadores de desempenho podem ser utilizados para oferecer bonificações, baseadas nos resultados obtidos.
O Paraná, hoje, é o número um em nível de educação no país, e precisamos elevar ainda mais esse nível. Foz do Iguaçu deve contribuir para esse avanço. Considero que valorizar as pessoas é valorizar todo o sistema educacional.
[Diário de Foz] Passando de um dos pilares do município, que é a educação, para outro pilar, que é a saúde. Hoje, sabemos que há um projeto de federalização do Hospital Municipal, que é uma referência não só em Foz, mas também na região. Qual sua posição em relação a esse projeto de federalização, que pretende transformar o Hospital Municipal em um hospital universitário federal, vinculado à Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), e também quais são outros pontos cruciais que o senhor acredita que precisam ser tratados urgentemente na saúde.
Vamos conversar sobre a federalização do hospital. O hospital, em tese, é uma responsabilidade do estado. O município assumiu essa responsabilidade e comprometeu bastante o seu orçamento. Hoje, cerca de 300 milhões de reais são gastos com o hospital. Mas essa decisão foi tomada. Quanto à federalização, vejo uma vantagem, que é a residência médica para os alunos que estudam medicina no Paraguai, que não têm onde praticar no último ano.
Essa residência médica beneficiaria brasileiros que utilizam esse serviço e, quem sabe, até fixaria esses recém-formados em Foz do Iguaçu ou na nossa região, beneficiando a oferta na área médica, que é uma grande carência na cidade e na região. Portanto, vejo um ponto positivo na federalização por causa disso.
Além disso, o custo deixaria de ser responsabilidade do município e passaria a ser da União. Embora haja uma dívida que ficará para o próximo prefeito, que terá que lidar com essa dificuldade de pagar uma dívida grande que existe. Na área de saúde, temos problemas de todas as naturezas. Conhecemos o problema das filas, das unidades de pronto atendimento (UPAs) e das unidades básicas de saúde (UBSs).
Embora a quantidade seja, em termos numéricos, aceitável para a nossa população, a distribuição geográfica não é ideal. Nem sempre o local com pouca população pode ficar sem um posto médico, no mínimo. Cito como exemplo o bairro Novo Horizonte, que praticamente não tem nada. As filas só crescem. Como não há um sistema completo de tecnologia que unifique as informações sobre o paciente, um sistema único onde qualquer local de atendimento possa ter os dados à disposição, muitas pessoas acabam entrando em várias filas diferentes.
As filas podem ser reduzidas, mas o paciente continua registrado nelas, gerando dificuldade. Às vezes, existem áreas que poderiam atender o paciente, mas não o fazem porque estão superlotadas, enquanto outras, naquele horário, estão vazias. Cirurgias eletivas poderiam ser realizadas após as 19h, mas, por alguma razão, os médicos param de trabalhar nesse horário. Eles têm total interesse em operar mais, praticar mais e, assim, aumentar sua remuneração.
Consultando pessoas do hospital, médicos, conversei muito com eles sobre isso. Já fui três vezes ao hospital a convite, para conhecer detalhes de tudo, até mesmo sobre o estoque de medicamentos, que é desnecessário dentro do hospital. Uma das maneiras de melhorar as filas seria ampliar o tempo de atendimento aos pacientes. Existem soluções menores, mas isso exige uma boa gestão hospitalar, alguém que seja um bom gestor para o hospital. Se for um médico, ótimo, mas se não for, não há problema nenhum. Pode ser alguém que entenda profundamente de gestão hospitalar.
Conheço muitos hospitais que são geridos por pessoas que não são médicas e que conseguem fazer um trabalho logístico muito bom. E isso com grande apoio de tecnologia. Existem sistemas hoje que podem ser integrados para otimizar tudo isso. Visualizo essa como a maneira de melhorar nossa área de saúde. Temos gente preparada e dedicada, mas falta gestão, incentivo e um acompanhamento melhor dessa área.
[Diário de Foz] Dentro dessa questão de investimentos que o senhor traz, outra área de Foz que sabemos ser bastante precária é a questão do acesso à cultura. Grande parte da população de Foz não tem acesso facilitado à cultura. Quais são os planos do senhor para aumentar os centros culturais em Foz do Iguaçu e democratizar esse acesso à cultura para toda a população?
Perfeito. É triste ouvir essa pergunta, mas ela é verdadeira e cabe aqui. Uma cidade turística que não zela pela sua cultura. Uma cidade com mais de 27 etnias, com habitantes de todos os estados da federação e com mais de 170 nacionalidades residentes em Foz do Iguaçu, ainda assim coloca a cultura em segundo plano.
Um dos cuidados que tive no ano passado, quando decidi participar do processo seletivo em Foz do Iguaçu, foi fazer uma visita prolongada à nossa Secretaria de Cultura. A secretária Luciana Casagrande, de Curitiba, esteve recentemente em Foz para conversar sobre as possibilidades do estado investir na área cultural. Havia a previsão de instalação de um museu e um teatro, que é uma necessidade há muito reclamada em Foz do Iguaçu. Ela me disse que Foz nunca recebeu praticamente nada na área de cultura porque não tem projeto nenhum. A cidade quer ver recursos, mas sem projetos para investir, não há como. Lembro que, quando estava na Itaipu, vários recursos voltaram porque a prefeitura não tinha projetos. Um exemplo é a prainha, que deixou de receber o recurso porque não havia projeto, e outros recursos retornaram da mesma forma.
Emendas parlamentares destinadas à cultura em Foz do Iguaçu acabam retornando porque as pessoas não apresentam projetos. Temos uma carência muito grande de escritórios de projetos em Foz do Iguaçu. A ideia é instalar um ou se associar à Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), juntamente com outras cidades.
Na Itaipu, eu era presidente da AMOP em Cascavel, e nos reuníamos com arquitetos para revisar todos os projetos que Itaipu iria investir. Alguns projetos simples davam tempo de fazer e aplicar o recurso. Primeiro, precisamos de projetos. Em seguida, há muitas áreas prontas para isso. Por exemplo, o Rio Mão de Ouro, a Praça da Bíblia, a Praça da Paz, onde fica a República Laje JK, entre outros exemplos de locais prontos para receberem investimentos, como o próprio teatro. Já estivemos vendo um local possível para a construção de um teatro, com recurso da prefeitura. Investir em cultura é essencial. Tínhamos uma banda em Foz do Iguaçu, que acabou.
Tínhamos uma orquestra, que também acabou. Precisamos de uma banda e uma orquestra de qualidade para os jovens, para treinamento, para uso dessas praças. Tudo isso foi desaparecendo, a cidade foi encolhendo, envelhecendo e ficando feia.
A Foz do Iguaçu de hoje, para ser uma cidade turística, deve muito. Precisamos de uma boa faxina, uma boa identificação nas entradas da cidade para que todos saibam que estão entrando em Foz do Iguaçu. Um portal de entrada, lógico, não apenas um, mas cinco. Concluir as obras em andamento.
Grandes investimentos em cultura são necessários, tanto no sentido gastronômico quanto no sentido de atrair e manter os turistas por mais tempo em Foz do Iguaçu.
[Diário de Foz] Sabemos que Foz é uma cidade muito turística, e um dos principais setores econômicos de Foz é o turismo. Eu gostaria que o senhor falasse um pouco mais sobre essa relação importante entre cultura e turismo, e qual o futuro que o senhor vê para o turismo em Foz do Iguaçu. Quais são as medidas que o senhor acha que poderiam fortalecer e ampliar esse setor econômico tão importante para o município?
Essa percepção do turismo, eu já tinha quando fui nomeado diretor-geral da Itaipu. Saí do Ministério da Defesa e já tinha uma boa visão de Foz do Iguaçu. Conhecia bem a cidade, já tinha vindo várias vezes, inclusive morei dois anos no Paraguai e, durante esse período, vinha com frequência a Foz. Conhecia o potencial turístico da cidade.
Ao chegar aqui, em conversa e alinhamento com o governador do estado, Ratinho Júnior, tratamos de uma estratégia: primeiro, gerar recursos da União, apresentar projetos e executar as áreas que mais desenvolveriam Foz do Iguaçu. Começamos pela segunda ponte, a Ponte da Integração, que está concluída e agora falta apenas a parte da perimetral. Em seguida, focamos no aeroporto, para transformá-lo em um aeroporto internacional que permita voos diretos da Europa e dos Estados Unidos para Foz do Iguaçu.
Também trabalhamos na duplicação da rodovia das Cataratas. Ou seja, as principais medidas necessárias para implementar o turismo, no que diz respeito à infraestrutura, foram tomadas e executadas. Não tinha a pretensão de me candidatar a prefeito, mas isso veio atender a uma demanda que agora se revela cada vez mais necessária. O que posso adiantar é que uma das áreas que o próximo prefeito encontrará em melhores condições para avançar é o turismo. Hoje, o aeroporto internacional já está com sua concessão feita, a pista foi ampliada em 600 metros durante minha gestão na Itaipu, e a ponte está concluída.
A duplicação da rodovia das Cataratas foi realizada com recursos destinados durante minha gestão como presidente da Itaipu. Esses recursos foram aplicados e estão à disposição. Agora, precisamos concluir o que está em andamento. Hoje, já há voos contratados dos Estados Unidos e da Europa direto para Foz do Iguaçu, assim como do Panamá, Recife, Lima e São Paulo, além de outras localidades.
Ou seja, o dever de casa em relação à infraestrutura foi feito. Agora, precisamos de um grande movimento de divulgação, de recursos da Secretaria de Turismo, e de uma conversa cada vez mais integrada com os empresários ligados ao turismo. A prefeitura deve fazer uma grande limpeza na cidade, pois Foz está feia e suja. É necessário cuidar da educação para quem recebe o turista e garantir identificações em três idiomas nos pontos de chegada, seja no aeroporto, na rodovia BR-277, ou nas fronteiras com Argentina e Paraguai. São cuidados iniciais que precisam ser feitos de imediato. A rodovia BR-277 está dividindo a cidade em duas. É necessário integrar os dois lados da cidade para que as pessoas se movimentem com mais liberdade. A conclusão da perimetral é urgente e já está contratada. A identificação das nossas ruas, que hoje não têm placas, precisa ser feita. Um motorista precisa saber onde está e para onde está indo. Se ele não tiver um dispositivo eletrônico ou GPS, fica perdido, dependendo de táxis ou aplicativos.
Além disso, precisamos de uma melhor conexão e integração com as cidades vizinhas. Estamos em uma tríplice fronteira e não podemos esquecer disso. Essa troca de cultura e integração precisa ser facilitada, logicamente com segurança, mas também com agilidade. Precisamos de um prefeito com habilidades diplomáticas, pois se não tiver experiência nessa área, terá dificuldades. Além de ser um bom gestor, é necessário cuidar de tudo isso para levar Foz ao nível que ela merece, considerando seu potencial, que sabemos ser monstruoso. Não há cidade no Brasil e poucas no mundo com o potencial de Foz do Iguaçu, tanto turístico quanto logístico.
Não desenvolver isso é perder muitas oportunidades. Talvez os custos sejam altos, mas as oportunidades que existem aqui são imensas. É uma área com muito a ser feito, mas que já está no caminho certo.
[Diário de Foz] O senhor falou sobre o aeroporto. Hoje, o aeroporto de Foz não tem a mesma amplitude que tinha antes da pandemia. Ainda não atingimos novamente os números que tínhamos antes da pandemia. O senhor acha que existe a possibilidade de ampliação para que possamos voltar a atingir esses números ou até mesmo superá-los?
Em termos de capacidade, o aeroporto tem condições de comportar até o dobro de aeronaves, muito mais até, pois a pista de estacionamento de aeronaves de grande porte foi ampliada para mais quatro aeronaves, inclusive para pernoite. Está sendo concluído um terminal de abastecimento de combustível de aviação, que é essencial. Somos um dos três aeroportos internacionais em uma área de 30 km. Se traçarmos um raio de 30 km, temos três aeroportos internacionais, um em cada país da fronteira: Argentina, Paraguai e Brasil. Portanto, Foz do Iguaçu é um hub logístico e também de aviação de destaque.
O que pode estar reduzindo a vinda de turistas para Foz é a necessidade de melhorar a qualidade da cidade, em termos de limpeza, oferta turística, belezas naturais, e segurança. Muitos turistas chegam, veem as Cataratas, visitam Itaipu e a fronteira, e depois retornam ao hotel e vão embora. Não há uma parte cultural ou atrativos noturnos para fixar o turista por mais tempo na cidade. Mas o aeroporto tem capacidade, sim, como aeroporto internacional, tanto para pouso e decolagem quanto para estacionamento e pernoite de aeronaves.
A concessão feita à CCR prevê um investimento de 270 milhões de reais, que já começou a ser implementado, ampliando a parte internacional do aeroporto. Portanto, o potencial está lá e será ampliado conforme a demanda.
[Diário de Foz] Se o senhor quiser acrescentar mais alguma coisa ou deixar um recado para os nossos leitores, fique à vontade.
Agradeço pelo convite e por participar deste momento de conversa. Estamos vivendo um período que, a partir de agora, marca o início da campanha propriamente dita, onde os candidatos irão apresentar suas propostas. Foz do Iguaçu é uma cidade que clama por mudança. É
tempo de mudança, de olhar para frente. O retrovisor é muito pequeno para o que precisamos. É tempo de ação, de operação, de escolher um gestor, alguém com experiência, com uma história de vida limpa e que a população possa verificar seu currículo, sua vida, e se orgulhar. Essa pessoa me representa.
Façam boas escolhas. Escolham alguém que mereça o potencial desta cidade, que tenha capacidade de montar uma equipe, liderar um processo de mudança que Foz do Iguaçu clama há 110 anos. É isso que eu quis dizer.
com informações do Diário de Foz, parceiro do Busão Foz
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