Ao final e ao cabo de um ano, todos, individualmente, costumamos fazer uma reflexão retrospectiva, com os pontos positivos e negativos. Social e politicamente, cabe, também, uma avaliação, especialmente, no bojo de uma pandemia, que suspendeu a normalidade de nossa vida cotidiana.
O Presidente Bolsonaro teve, em 2020, a possibilidade de romper com o seu primeiro ano de mandato no qual preponderou o seu presidencialismo de confrontação. Desgraçadamente, o coronavírus trouxe doença, crise sanitária, crise econômica e milhões de mortes, aqui e alhures. Muitos presidentes e primeiros-ministros conjugaram discursos e ações objetivando encarar o vírus como um inimigo a ser vencido a todo custo, numa grande operação de guerra.
Aqui, com Bolsonaro e o bolsonarismo, os inimigos continuaram a ser a “velha política”, os jornalistas, a mídia, a esquerda, os cientistas, estudantes, intelectuais, artistas, professores, entre outros, reais ou imaginários, internos ou externos. Dessa forma, tendo formação militar e condições de assumir a liderança neste processo, o Presidente assumiu postura de menoscabo em relação à pandemia e atitudes negacionistas, com presença de fake news e absurdas teorias da conspiração.
No que tange à vacina, Bolsonaro e seu ministro da saúde perderam o protagonismo para o Governador de São Paulo, João Doria, e para o Instituto Butantan. Em verdade, o bolsonarismo atacou – e ataca ainda – a vacina e com evidentes dificuldades de apresentar um plano nacional de vacinação. Compreendendo a gravidade do vácuo de liderança por parte do presidente e a angústia de prefeitos e governadores, o Supremo Tribunal Federal deixou claro, dentro os parâmetros do federalismo, das responsabilidades da União, dos estados e dos municípios. Com isso, prefeitos e governadores distanciaram-se do presidente ao compreender a gravidade da pandemia e de incentivar o distanciamento social e uso de máscaras e higiene, seguindo os protocolos científicos disponíveis.
No meio ambiente, o Brasil foi foco negativo para governos internacionais e para a mídia estrangeira, em tristes cenas de fogo e desmatamento da Amazônia e do Pantanal. No cenário internacional, nossa diplomacia, sempre tão respeitada, tornou-se inconveniente e apequenada. Em lances incríveis, atacamos, sistematicamente a China, e o governo assumiu clara e notória predileção, na eleição dos EUA, por Trump, que acabou derrotado por Biden, cuja vitória fomos os últimos a reconhecer no mundo.
Na importante agenda de combate à corrupção, Sérgio Moro, símbolo da Lava Jato, foi defenestrado do governo e, na saída, acusou Bolsonaro de querer interferir politicamente na Polícia Federal. Em recente matéria, recai sobre a Abin – órgão de Estado – a suspeita de produzir relatórios para orientar a defesa de Flávio Bolsonaro no já famigerado caso das “rachadinhas”, na Alerj. Bolsonaro e ministros, nos meses iniciais da pandemia, participaram de atos antidemocráticos, que clamavam pelo fechamento do Congresso Nacional, do STF e da volta do Regime Militar. Tais atos, bem como a suposta intervenção na PF por parte de Bolsonaro, são objetos de investigação em curso no STF, mormente, com suspeitas da participação de outro filho do presidente, o vereador carioca, Carlos Bolsonaro, com ação direta no comando do chamado “gabinete do ódio”, operando as redes sociais de dentro do Palácio do Planalto.
Muitos outros pontos poderiam ser, aqui, trazidos à tona neste ano de crises conjugadas: pandêmica, econômica e política. Quase 200 mil brasileiros mortos e milhares de famílias que não puderam vivenciar o luto dos que se foram e terão vazios, na mesa e na alma, durante este Natal. Foi um ano difícil para todos, no mundo; mas assaz difícil no Brasil.
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