Entrevista com Gilberto Rios, autor de As Nornas: O Candelabro Vara Sete

Podemos chamar de real ou realista (por oposição a fantástico) todas as pessoas, coisas ou acontecimentos identificáveis e comprováveis através da nossa própria experiência de mundo e rotulemos de fantástico tudo o que não se encaixa nessa categoria. A noção de fantástico, assim, abrange todo um leque de níveis distintos: o mágico, o miraculoso, o lendário e o místico.

Nota-se neste primeiro livro na obra As Nornas: O Candelabro Vara Sete do escritor Gilberto Rios, o que há de realidade nas delicadas filigranas tecidas pelo fantástico que é a condição humana transmitida neste livro. O que nos impressiona são os detalhes das descrições, pois, a narrativa se passa num lugar real – Talvik (cidade ao norte da Noruega) no ano de 1864 – com acontecimentos ocorridos neste período e a sua completa ausência de ornamentos no texto (penduricalhos) geralmente propostos pelos escritores deste gênero.

Podemos chamar de real ou realista (por oposição a fantástico) todas as pessoas, coisas ou acontecimentos identificáveis e comprováveis através da nossa própria experiência de mundo e rotulemos de fantástico tudo o que não se encaixa nessa categoria. A noção de fantástico, assim, abrange todo um leque de níveis distintos: o mágico, o miraculoso, o lendário e o místico.

Nota-se neste primeiro livro na obra As Nornas: O Candelabro Vara Sete do escritor Gilberto Rios, o que há de realidade nas delicadas filigranas tecidas pelo fantástico que é a condição humana transmitida neste livro. O que nos impressiona são os detalhes das descrições, pois, a narrativa se passa num lugar real – Talvik (cidade ao norte da Noruega) no ano de 1864 – com acontecimentos ocorridos neste período e a sua completa ausência de ornamentos no texto (penduricalhos) geralmente propostos pelos escritores deste gênero.

Na obra encontramos uma economia que revela o essencial para o leitor mais exigente, leitores dos sucessos de “Harry Potter”, “As Crônicas de Nárnia” e outras deste segmento. Em vários trechos o autor nos impressiona com uma riqueza citada da humanidade, dos heróis perante a morte e as batalhas da própria vida, com a busca incessante da cura do mal que o aflige. Da fé a uma Santa em conjunto a um objeto sagrado (Candelabro) que possa curar a sua enfermidade ou uma doença que vai de uma paralisia infantil a um aumento da pilosidade – características citadas para homens-lobisomens.

Não podemos negar que, nesse momento, sentimos alguma coisa dentro de si enquanto transcorre a leitura dela. É impossível negá-lo. Fica ao critério do leitor decidir o quê — nesta e noutras passagens quase crípticas, que soam bem, mas que não dizem grande coisa para se expressar especificamente. É difícil dizer aonde é que o autor quis chegar com este primeiro volume da série e quais as revelações que descobriremos na trajetória dos próximos livros.  Nesta entrevista exclusiva, Gilberto Rios nos conta como tudo aconteceu.

Jornal de Brasília – Como surgiu a ideia de escrever o Livro baseado na Mitologia Nórdica?

Gilberto Rios – O livro nasceu fruto de um sonho ocorrido no ano de 2011 em Brasília no dia 13 de dezembro, lembro-me desta data porque sou católico e tenho admiração por Santa Luzia. Este sonho se repetiu por duas outras vezes, foi como se o raio caísse três vezes no mesmo lugar. Encorajado e embalado pelo sonho, fui a luta pesquisando mapas antigos no Sebinho e correndo atrás de literaturas. Havia sonhado com um lugar que nunca havia ido, no ano de 1864. Morei lá (risos).

JBr. – Na obra o Candelabro Vara Sete você traz para os leitores uma biografia inventada, um livro de pensamentos e uma dissertação sobre o branco, a morte, o prazer, a sagacidade dos sentimentos e acima de tudo o oportunismo. Como foi juntar isto tudo?

GR – Bem, eu iniciei o livro em 2013 e terminei em 2015.Mas ele vinha amadurecendo na minha mente desde o primeiro sonho em 2011. Quando eu concluí ele tinha 1.064 páginas. Uma grande editora quis comprar os direitos autorais, quando ele foi diagramado chegou em 1.950 páginas. A editora sugeriu que eu dividisse em 5 volumes de 390 páginas, foi um parto. Como fazer o leitor ler o primeiro volume e se interessar pelos demais, que sufoco.

Mas enfim, acredito que deu certo, nasceram 5 filhotes e este é o primeiro da série, estão todos prontos. Mas voltando para sua pergunta, eu tentei delinear nas entrelinhas discorridas na trama algo que estava dentro de mim, o mundo do faz de contas. Este universo me acompanha desde o tempo que eu fazia direção teatral tendo como professora a própria Dulcina de Moraes, fui aluno dela. O mundo do imaginário popular, neste caso a Fantasia recheada de Bruxas, Elfos, Gnomos, Anões e Mitos Nórdicos sempre foi o meu forte. Eles sempre foram as minhas leituras prediletas desde o dia que eu tive o meu primeiro contato com 7 anos de idade com as obras de Monteiro Lobato.

Apropriei-me deste sonho, da fé cristã e da forma pagã que conflitava comigo mesmo. Achei que era um universo interessante de ser explorado, como por exemplo, o realismo existente que é o questionamento sobre a data de nascimento de Cristo como um marketing de expansão do Cristianismo, passando pela confecção de um objeto sagrado, como neste caso é o do Candelabro que eu ponho como se ele fosse confeccionado nas Oficinas Sidri do Vaticano no ano de 260. Estes objetos tinham um objetivo cristão muito interessante, expandir o Catolicismo na Europa. Com o crescimento das igrejas Luteranas na região em que ocorre a trama e a mudança de uma igreja de local por determinação de um rei foi um aperitivo bem interessante, isto sem negar o caos político na época, tudo isto eu joguei no livro, e foi assim que eu construí a trama, eu mesmo gosto disto.

JBr. – Percebemos que você fugiu dos estereótipos de bruxas e seres sobrenaturais vistos em outros livros do gênero – fantasia.

GR – Me disseram isto, mas te confesso que nem percebi, alguém deve ter orientado as minhas mãos.(Risos).

JBr. – Como assim?

GR – Sonhar três vezes a mesma coisa é algo incomum na vida das pessoas, mas fui até um amigo psicólogo que fazia TVP – Terapia de Vidas Passadas e segundo ele eu morei em Talvik neste ano.( risos). Imagine um baiano do sertão que veio para Brasília aos 16 anos de idade ter morado no norte da Noruega. Lembrei neste dia de uma frase da musica Vaca Profana do Caetano Veloso, “De perto ninguém é normal”. Foi muito doido, mas tive bastantes ajuda de amigos para digerir tudo isto.

JBr – O livro conduz os leitores ao universo imaginário da Mitologia Nórdica ao tentarmos compreender os desígnios das fiandeiras do destino da humanidade, aqui me refiro As Nornas que se assemelham as Parcas Gregas. Como foi juntar tudo isto?

GR – Foi bacana, porque eu criei uma cidade já existente envolvendo ela na sua quase totalidade. Temos na obra inteira, nestes 5 volumes mais de 80 personagens que se conectam, assim são as pessoas nas suas cidades. Trazer o mundo pagã dos deuses nórdicos foi bastante instigante, falar de Odin, Loki um trapaceiro genial e as suas artimanhas, Thor e outros com o que acontecia naquele período na região e os questionamentos, acredito que foi isto o sucesso do projeto. Eu queria algo que me transportasse para um mundo irreal e que nunca morresse em mim aquele Gilberto dos sete anos de idade, hoje com 62 anos continuo sonhando, porque infeliz pé o homem que não sonha. Me considero um debutante na literatura com a idade que eu tenho.

JBr – A tristeza parece por vezes no livro, porém a mancha gráfica se solta da linearidade e oferecem simultaneidade de vozes dos diversos personagens, tempos e sentimentos difíceis de concretizar quando presa a asseios canônicos. Foi proposital ou ele surgiu com o desenrolar da escrita?

GR – Foi de caso pensado sim. Eu queria algo para esta geração do Harry Potter e outras literaturas do gênero, queria algo Brechetiano. Aqui Bertold Brecht invadiu a minha mente, queria que estes leitores não se emocionassem e sim buscassem dentro de se o princípio da racionalidade. Como por exemplo, a sua existência, tais quais as suas raízes. Elas de um modo geral estão tão entrelaçadas em diferentes gerações que se perdemos a noção do real ou mesmo do irreal.

JBr – Percebemos que você foge da linguagem visceral e hipnótica vista em alguns autores como Chandler, Hammett ou Lehane, ícones da literatura americana investigativa. Você teve alguma influência destes escritores?

GR – Sim, mas eu prefiro citar o livro “O Nome da Rosa” de Umberto Eco que foge um pouco disto que você me pergunta, eu acho esta obra fantástica como cabeceira de cama.

JBr – Voltando a sua obra, você nos dá uma perspectiva cubista do existente, seja real, pois tudo se passa num ambiente existente ou mesmo irreal, o interior de Yggdrasil, a árvore da vida na mitologia nórdica, onde a trama se desenrola.

GR – Desde a minha época do teatro eu gostava de peças com enredos sólidos que envolvesse a plateia nas minhas montagens. Sempre achava que o experimentalismo era uma revolta contra as limitações e contra a expectável organização da prosa proposta pelos autores das peças. Os anos me ensinaram que os livros são, em grande medida, aquilo que os leitores fazem deles e isso é uma das coisas maravilhosas da nossa literatura, pois, o ser humano, desde o sempre, teve um inevitável fascínio pelo desconhecido, guiado sempre por percepções, sensações e premunições. Nisto, o mundo mitológico e as conspirações astrais revelam uma fantástica fórmula da vida, desde a orientação para o dia a dia, até mesmo para descobrimento de formas e fórmulas para curar as doenças do corpo e da alma. Somos infelizmente sensíveis às intrigas, traições e fé, botei tudo isto lá e parece que deu certo.

JBr. Você terminou lançando por selo independente, porquê?

GR – Sim, fui na contra mão da editoração existente. Fiquei revoltado com tudo aquilo, a frase do Monteiro Lobato que “Um pais se constrói pela literatura” está longe das politicas públicas dos atuais governantes. Como ganhei o título de cidadão feirense (Feira de Santana/Ba), fiz um pró-cultura e o Shopping Boulevard abraçou a ideia. Íamos lançar este ano em Feira de Santana, Salvador, Brasília, Curitiba, São Paulo e Rio. Mas a pandemia adiou tudo, neste intervalo o livro emplacou e o boca a boca foi junto.

Da primeira edição me sobraram menos de 300 exemplares de uma leva de mil. Estou contente, principalmente por estar em Brasília novamente. Foi aqui que tudo nasceu, é da aqui o meu capista, o meu diagramador e a minha maior incentivadora, Sheila Aragão. A segunda edição será lançada pela Editora Serpentine do Rio de Janeiro que está cuidando do lançamento do segundo volume, As Nornas: O Pergaminho de Mersenbueguer. Mas tenho aqui em Brasília alguns exemplares para os interessados neste tempo de pandemia curtir uma literatura fantástica.

Serviço
As Nornas: O Candelabro Vara Sete
Livro Físico – R$ 39,90 (autografado pelo autor)
Pedido com entrega dentro dos protocolos.
Telefone/Whatsapp – (45) 991 099 399
Kindle da Amazon – R$ 9,00