Dentre os tantos projetos desenvolvidos nestes períodos de quarentena no campus Curitiba da UTFPR, temos o de produção de câmaras de para desinfectar máscaras em hospitais. Marcus Vinícius de Liz, professor do Departamento Acadêmico de Química e Biologia (DAQBI), está investindo nesse projeto, após receber demanda da Unidade de Pronto Atendimento do Município de Fazenda Rio Grande, que apresentava dificuldades em adquirir máscaras N95 para Unidades de Saúde do Município. A médica local, Joseline Micheleto, apresentou o problema e, ao lado de Joicy Micheletto, que realizou seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental do DAQBI, trabalhando com processos envolvendo o uso da radiação para tratamento de água e desinfecção, trouxeram o desafio a Marcus Liz, demonstrando publicação científica de um órgão de saúde dos Estados Unidos.
Também já haviam sido publicadas reportagens com o uso da radiação UV para desinfecção de ambientes hospitalares na China, o que incentivou o pesquisador à empreitada. “Desde então temos nos dividido entre nossos afazeres diários para desenvolver essa câmara de desinfecção, para que possa ser usado em hospitais e unidades de saúde”. Marcus ressalta: “esta é uma medida extrema, em função da pandemia mundial de Coronavírus e da escassez de máscaras para proteção das pessoas que têm se dedicado a atender pacientes contaminados” e cita que o órgão regulador dos EUA autorizou estudos e usos de máscaras esterilizadas mediante a escassez mundial de EPI´s para a área de saúde. “Entendemos que é melhor o profissional reutilizar uma máscara esterilizada do que não utilizar máscara alguma. Porém, havendo máscaras novas disponíveis estas devem ser sempre a prioridade de uso”.
Neste sentido, o professor explica que os dados da literatura são relacionados a máscaras N95, principal tipo de máscara utilizada por pessoas que estão na “linha de frente” para atendimento a pessoas infectadas com a Covid-19, seja em hospitais ou demais unidades de saúde. Não há testes na literatura a respeito de máscaras cirúrgicas ou de pano, mas as de pano podem ser desinfectadas utilizando-se processos de lavagem com água e sabão.
A construção das câmaras relaciona-se à experiência do professor em tratamentos com radiação UV; “resolvemos utilizar o mesmo material já utilizado em nosso laboratório, o MDF, para construção das câmaras. Elas são construídas utilizando-se lâmpadas germicidas que buscam proporcionar a desinfecção do material constituinte das máscaras”. Em sua concepção, a câmara terá capacidade para esterilizar de 6 a 8 máscaras simultaneamente, podendo atender a uma demanda de aproximadamente 300 máscaras por dia. Marcus Liz acredita que, assim que se estabeleçam condições ideais de trabalho, ela possa ser construída em algumas horas, dependendo da mão de obra disponível, e sua capacidade depende das dimensões em que for construída. “Como ainda estamos finalizando o protótipo, o tamanho pode variar um pouco. Este último protótipo está com um tamanho aproximado de uma CPU de computador”, esclarece.
Neste momento, em que desenvolve o projeto em casa, devido às restrições de mobilidade, o pesquisador testa lâmpadas disponíveis no mercado especializado; “devemos ter o primeiro protótipo construído para o início da próxima semana (segunda-feira)”. O custo aproximado dos materiais é de 1.200,00 reais.
Mesmo em casa, Liz não está sozinho nesse trabalho. Na UTFPR, recebe apoio de professores e da direção do campus Curitiba: “Para o desenvolvimento da câmara, estamos trabalhando eu, a Joicy e o Rafael (marido da Joicy, que tem nos ajudado). Compartilhamos a ideia com outro grupo da UTFPR que também está trabalhando no desenvolvimento de métodos de esterilização para EPIs de uso na área hospitalar. Recebemos a colaboração de Patrício Zamora, professor da UFPR, que nos emprestou instrumentos de medida de radiação. A empresa Móveis Kujawa nos ajudou com o projeto deste último protótipo e nos doou uma câmara para os testes. O Laboratório de Análise de Minerais e Rochas – Lamir, da UFPR, nos colocou toda a sua infraestrutura à disposição para análises de possível degradação dos materiais constituintes das máscaras. O campus Curitiba da UTFPR está nos apoiando com recursos financeiros para construção deste protótipo e mais duas câmaras”.
Como haverá a construção de duas caixas, além do protótipo, o destino dessa produção já está confirmado: “uma será destinada para a Dra. Joseline, da Fazenda Rio Grande, e outra para o Dr. Francisco, do Hospital Regional da Lapa São Sebastião, com quem temos parceria de pesquisa referente a tratamento de efluentes hospitalares há algum tempo já. Porém, sabemos que existe uma demanda muito maior, já expressa tanto pela Dra. Joseline como pelo Dr. Francisco, para atender hospitais e unidades de Saúde de Curitiba e região”. Neste sentido, Marcus Liz reafirma que, para atendimento de uma demanda maior, haverá necessidade de recursos para aquisição dos materiais e mão de obra voluntária para montagem, “pois não visamos lucros com essa iniciativa”, o que fará parte de um segundo momento da empreitada.
Texto extraído do Informativo do campus Curitiba da UTFPR