A Assembleia Legislativa do Paraná discutiu nesta sexta-feira (22) formas de promover a inclusão de pessoas negras no mercado de trabalho. Durante o encontro, participantes elencaram uma série de experiências bem-sucedidas no processo de inclusão. Para os presentes, no entanto, é preciso melhorar os índices de participação da pessoa negra no mercado de trabalho, principalmente em cargos de chefia. Para isso, vários exemplos foram abordados, como a necessidade de criação de políticas de cotas em órgãos da administração pública.
A audiência pública promovida pelo presidente da Comissão de Igualdade Racial, deputado Renato Freitas (PT), é uma alusão ao mês da consciência negra. O encontro reuniu representantes da Federação do Comércio do Paraná, da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), além de membros dos bancos Caixa Econômica, Itaú e Banco do Brasil. Também participaram representantes do Fundo Baobá, o primeiro fundo exclusivo para promoção da equidade racial no Brasil.
O parlamentar explicou que a ideia da proposta é debater meios de permitir o acesso a empregos formais, já que na maioria das vezes a pessoa negra é exposta ao trabalho precarizado. Para o deputado Renato Freitas, é necessário rediscutir os modelos de trabalho e a urgência de geração de empregos dignos, que gerem renda efetiva e garantam descanso aos trabalhadores. “Nosso objetivo é equacionar e corrigir os principais problemas que envolvem a racialidade no mundo do trabalho. Isto é, dentro de uma mesma profissão, exercendo o mesmo ofício, as pessoas negras recebem menos do que as pessoas brancas. Dentre as profissões mais degradantes, informais, sem direito algum, a população negra é super representada. Então, acreditamos que é hora de discutir políticas de afirmação para que a população negra consiga acessar cargos de chefia, decisão e gerência”, comentou.
Freitas informou que vai propor na Assembleia um projeto de lei que visa garantir cotas raciais nos órgãos da administração pública paranaense. “Estamos formulando um projeto com foco na estrutura estatal para que haja uma reserva de vagas de acordo com a população negra do estado do Paraná, que hoje é aproximadamente 30%. Queremos que o estado consiga ensinar a população o valor da integração de todos os povos no mercado de trabalho e como isso futuramente vai corrigir as desigualdades. Corrigindo as desigualdades, necessariamente vamos diminuir os conflitos sociais”.
A diretora de programa do Fundo Baobá para a Equidade Racial, Fernanda Lopes, explicou que a instituição é o primeiro e único fundo patrimonial filantrópico exclusivo para mobilizar, captar recursos humanos e financeiros para investir em iniciativas de promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, já apoiou mais de 1200 iniciativas, com 2500 beneficiários diretos. Para ela, a iniciativa do Poder Legislativo é de extrema importância para o tema. “Quando nós nos dispomos a olhar para a sociedade brasileira e desenhar caminhos de maior justiça, as ações afirmativas não podem ficar de fora, porque são ações compensatórias, ações que reparam o prejuízo causado. O trabalho pela promoção das ações administrativas é um caminho decisivo e inegável. Ele é urgente para a construção de uma sociedade justa e democrática”, frisou.
O diretor e coordenador do Conselho Temático de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Fernando Yukio Mizote, tratou das ações da entidade para garantir maior inclusão nos postos de trabalho industriais. “A inclusão está bastante presente em nossos debates. Desde 2003, a FIEP protagoniza ações de desenvolvimento global. Notamos que a diversidade cria um ambiente propício para um pilar de inovação. Isso amplia a visão e perspectivas de pessoas sobre como resolver problemas, conquistar o público e engajar pessoas. Torna o ambiente mais criativo e colaborativo. Isso é algo que temos medido em diversas empresas”, afirmou. No entanto, Mizote reconheceu que uma evolução é necessária. “Apesar dos avanços, sabemos que os desafios são imensos. Temos muito a avançar. Isso é inquestionável. Uma pesquisa do Dieese mostra que os principais desafios são na questão salarial. Pessoas negras ganham 39% a menos que pessoas brancas. Temos trabalhado para que inclusão racial seja prática diária dentro das indústrias”, reforçou.
Experiências
O superintendente da Rede Caixa Econômica Curitiba Oeste/PR, Gilberto Onofre Da Luz, participou da audiência trazendo um panorama de como a instituição tem contribuído com o tema. Ele informou que os concursos públicos da Caixa têm uma reserva de cotas para negros e indígenas. Segundo ele, 26% dos funcionários são auto declarados negros ou pardos. Além disso, ele citou o exemplo do programa “Diversidade e Inclusão”, que fomenta a “cultura de respeito e valorização das diferenças das pessoas, estimulando práticas de gestão que promovam a inclusão, a equidade e a mitigação de todas as formas de preconceito e discriminação”. “Há uma riqueza racial e cultural dos funcionários. Orgulhamo-nos dessa pluralidade. Nossa missão é valorizar os seres humanos”, disse.
O gerente de Soluções do Banco do Brasil, André Castelo Branco Machado, também tratou de uma série de ações da empresa para garantir mais inclusão de pessoas negras. “Temos equipes de diversidade para criar um diagnóstico aprofundado. Tivemos marcos importantes, como a assinatura de um protocolo com o Ministério da Igualdade Racial (MIR) tratando de como o banco poderia contribuir com a sociedade e como mais pessoas negras poderiam atingir cargos de chefia. O desafio é pensar toda a cadeia do banco. Um exemplo é a criação do programa ‘Raça é prioridade’ com o objetivo de acelerar o avanço na carreira de pessoas negras. Nossa meta é ter 30% pessoas negras, indígenas ou quilombolas em posições de liderança até 2025”, informou.
Presenças
Também participaram do debate a gerente de Filial Região Sul da Caixa, Márcia Shizue Furusato de Campos, o presidente da CUT Paraná, Marcio Kieller, e a coordenadora do Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial da Defensoria Pública do Estado do Paraná, Camille Vieira da Costa.
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