A família de habitantes do Refúgio Biológico Bela Vista, da usina de Itaipu, ganhou mais uma integrante no dia 24 de junho. A filhote de lontra-neotropical (Lontra longicaudis) Mara, que tem apenas dois meses de vida, foi encontrada em Guaratuba, no litoral do Paraná, no mês de maio. Ela recebeu os cuidados iniciais da equipe do Centro de Reabilitação de Fauna Marinha (CRD) do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e graças a uma parceria entre as instituições, ganhou lar definitivo em Foz do Iguaçu (PR).
O Refúgio, que completou 36 anos no dia 27 de junho, recebeu a bebê como um presente. O espaço tem duas lontras macho da mesma espécie em seu plantel – Yuri e Bigode – e, agora, com a chegada da fêmea, surge a possibilidade de iniciar um projeto de reprodução em cativeiro para a futura reintrodução de indivíduos na natureza. Isso deve acontecer a médio prazo, quando Mara já estiver mais desenvolvida.
“O fato deste exemplar da espécie não ter condições de se reintegrar ao seu ambiente natural abre uma oportunidade para uma ação de conservação da espécie, por meio da reprodução em ambiente artificial”, explicou o superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu, Ariel Scheffer.
A espécie Lontra longicaudis é classificada como “quase ameaçada de extinção” pelo Institituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
A pequena lontra viverá em um recinto específico para a espécie. “O ambiente que preparamos para a lontrinha é de qualidade, e possui um amplo espaço desenhado para suas necessidades e é enriquecido com elementos naturais de seu habitat”, disse Scheffer.
Segundo o médico veterinário Zalmir Silvino Cubas, da Itaipu, a lontra está bem adaptada e já ganhou peso desde a chegada a Foz. “Ela passa os dias no recinto fechado, onde nada e se exercita. À noite a levamos para o Hospital Veterinário, onde a temperatura é controlada”, informa. E, mesmo tendo vindo do litoral, ela parece estar se sentindo em casa: essa espécie de lontra é encontrada em todo o Paraná, inclusive na área do Reservatório da Itaipu.
Resgate
O animal foi retirado das margens de um canal de água doce por pessoas que acreditavam que a lontra estava sozinha e era muito pequena. A ausência da mãe faz com que o filhote não aprenda os comportamentos básicos para sobrevivência na natureza, como caçar e evitar predadores e outros perigos, por isso a necessidade de encontrar um lar para a pequena.
“Tivemos um feliz caso de sucesso com esse animal. É bem raro estabilizar um filhote desta espécie. A gente não só conseguiu mantê-la viva, como ela cresceu 23 centímetros no período de tratamento no Centro de Reabilitação de Fauna Marinha”, explica a bióloga e coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação/UFPR, Camila Domit.
Os dois meses de tratamento no CRD permitiram que a bebê lontra começasse, aos poucos, a se alimentar sozinha, a nadar e explorar o ambiente. Diariamente, passou por exames clínicos de rotina e pesagem em jejum para acompanhamento do ganho de massa corpórea. O filhote ficou alojado em sala de estabilização, com temperatura controlada de 28°C no período noturno, tomando banhos de sol e praticando natação em água com temperatura de 27°C durante o dia.
Em dias nublados, a lontrinha foi mantida em sala com temperatura regulada e lâmpadas ultravioleta A e B para auxiliar o processo de mineralização óssea.
A história da lontra servirá de alerta para pessoas que, mesmo bem intencionadas, removem animais de seus hábitats. “Aproveitaremos a história da captura deste filhote retirado erroneamente de ninho em ambiente natural para educar as pessoas e mostrar a necessidade de não capturar animais em seu hábitat natural e de não interferir ou alterar estes hábitats”, disse Scheffer. Isso porque a retirada de um filhote pode afastá-lo da mãe e impedir seu desenvolvimento em ambiente natural. Neste caso, antes de manipular o animal, sempre avise as autoridades ambientais.
O RBV
O Refúgio Bela Vista tem cerca de 1.200 hectares de áreas verdes e abriga um hospital veterinário especializado em animais silvestres, um criadouro científico com foco em espécies ameaçadas de extinção, um biotério e produção de vegetação para alimento das espécies em cativeiro, e um zoológico que está aberto a turistas e moradores, com foco em educação ambiental. A visitação está suspensa temporariamente, em função da pandemia de covid-19.
O local mantém e gerencia populações representativas da fauna silvestre em cativeiro de espécies nativas, constituindo um banco genético vivo para conservação, pesquisa e conscientização ambiental. Também são desenvolvidas iniciativas de pesquisa e biotecnologia para aumentar a reprodução ex situ (fora do lugar de origem) e a conservação de espécies selvagens ameaçadas de extinção ou de interesse para reintrodução das áreas protegidas da Itaipu.
*Com informações da Assessoria de Imprensa da UFPR