Um história boa pode ser contada de várias maneiras. A narrativa é a arte de amarrar as ideias, dar espaço ao silêncio, chamar o próximo pedaço pra fazer parte daquele todo que vai se revelando na medida em que a história avança. O filme “O Cidadão Ilustre”, de 2016, é uma boa história.
O filme é argentino e conta a história de um escritor famoso de uma pequena cidade, a 700 quilômetros de Buenos Aires. Não vale a pena contar porque o enredo e o filme são bons, basta você abrir um desses serviços de streaming de vídeos disponíveis e comprovar.
Neste fim de semana, mais um no meio da pandemia, assistimos sete filmes. Este fez eu lembrar o nome depois que acabou e ter vontade de pensar nele. O filme é premiado, o que não quer dizer nada.
Na verdade, os últimos sete minutos me atraíram mais do que todo o resto. “A realidade não existe. Não existem fatos e sim interpretações”, essa bela frase é dita pelo protagonista, o escritor argentino Daniel Mantovani.
Na sequência ele fala algo que lembra também um pouco o jornalismo. “A verdade, ou o que chamamos de verdade, é uma interpretação que prevaleceu sobre as outras”.
Um escritor tem a liberdade para tirar os personagens da cabeça. Personalidades de pessoas mesquinhas, viciadas, hipócritas, maldosas, ruins, sem caráter, vis e baixas podem deixar de ocupar a mente e serem “expurgadas” para o papel. Talvez as gavetas fiquem mais leves e limpas assim.
Mas tudo pode ser mentira, inclusive o que você assistir na tela ou ler por aí.
TEXTO por: Adriano Kotsan